segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Salvem o Centenário!

Os cabelos brancos, dizem, indicam sabedoria e experiência. O idoso merece respeito, tanto que um estatuto lhe é destinado neste país. Fazer 100 anos deveria ser motivo de orgulho, ainda mais para o Velho Saci, um aleijado maltrapilho rejeitado ainda quando era uma idéia, nascido para destronar o preconceito alheio. Forasteiros o conceberam. Pobres e negros o acolheram da desgraça dos primeiros anos à redenção nos inesquecíveis anos 70. Na iminência de perder sua casa dos anos 20, seus filhos o salvaram com todo tipo de auxílio. Quando a nobre casa, inesquecível morada do rolo compressor e de uma copa do mundo, já não era suficiente para tantos rebentos, estes ergueram um Gigante. E quando o Gigante precisou de amparo, seu povo não lhe faltou. Um “clube do povo”, democrático, brasileiro e gaúcho, simbiose da técnica e da raça, único palco do futebol brasileiro no Rio Grande.

Dizem por aí que o Velho está cheio da grana. Rico. Blasfêmia! Alguns de nossos mais corajosos e capacitados irmãos cuidam muito bem de suas finanças. Outros, abonados ou simplesmente dispostos a sacrificar o pão de seus filhos formam o maior número de sócios do Brasil. Não é fato para surpreender. Um povo sem a benção do acaso, da sorte ou do milagre, calejado por tantas decepções – mas nunca rebaixado a níveis inferiores – constrói seu próprio destino. E sabe que em tempos difíceis não aparecerá polpudos cheques de empresários multimilionários.

É crível um negro perneta constituir uma nação? Tudo se pode crer vindo desde senhor de 99 anos bem vividos. E o centenário se aproxima. Como honrar esta memorável data? Aqueles filhos corajosos e capacitados planejaram algo grandioso: o Brasil, a América e o Mundo. 100 mil sócios. Nada megalomaníaco! Tudo o que aquele rejeitado ainda quando era uma idéia merece.

Mas o futebol se perdeu. O “nome” foi prestigiado em detrimento da “eficiência”. As apostas convergiram para alguns jogadores cujo momento parece ter-se ido. Etapas não foram obedecidas. Há grandes jogadores; não há time. Uma transição, que deveria ter sido concluída em 2007, ocorre em meio a um brasileiro estranho, avesso, repulsivo. Enfim, um ano nada condizente com a trajetória colorada.

A nação, da incredulidade passa à decepção, e da decepção à revolta. Marcão não deve voltar. Foi dispensado pelo povo. Edinho, um irmão, precisa mudar. É terrível vaiá-lo, mas está a merecer. Taison pode ser o craque da pelada do fim de semana. É jogador de bola. Monteiro na direita é idéia do Abel, e Abel não tem idéias que prestem. Não há convicção tática...

É possível salvar o centenário? É. O Santos, em 2007, acabou o primeiro turno na oitava posição, com 27 pontos (8 vit, 3 emp, 8 der) um a mais que o Inter 2008. O Flamengo, apesar de ter atuado no primeiro turno apenas 16 vezes, estava na zona do rebaixamento, com 18 pontos (4 vit, 6 emp, 6 der). Ambos se classificaram para a libertadores, com duas realidades diferentes. O limitado Santos do grande Luxa conquistou 35 pontos no segundo turno (11 vit, 2 emp, 6 der). Um Flamengo que foi ao mercado contratar, nas mãos do peculiar Joel Santana, fez 43 pontos (13 vit, 4 emp, 5 der).

Definir um time, apostar no mesmo e cobrar atitude. Evitar que “centenário” não seja sinônimo de decepção, como foi com uma certa agremiação em 2003 ou até mesmo o galo mineiro este ano. Tudo simples na teoria, complicado para o nosso contexto. Mas não há mais em que se apoiar. A Libertadores é a única salvação do centenário.

4 comentários:

BRUNO disse...

Muito bom teu texto Thiago!! Sério. Mas, unicamente pelo amor ao debate, questiono a seguinte pasagem: "em tempos difíceis não aparecerão cheques de empresários Multi milionários". O d'alesandro, que eu saiba, veio com a ajuda($$) de um tal de Sonda, um empresário -- com certeza -, Ultra multi miilionário.

Thiago disse...

É verdade, mas existem diferenças importantes. É normal, corriqueiro, um investidor ser parceiro do clube, esperando, é claro, retorno. No caso do D´alessandro, cumpridas as expectativas, ao empresário será garantido esse retorno, pois detém um percentual. Situação diferente é um projeto visando subir para a primeira divisão receber milhões, tão somente constando como dívida do clube.

vinícius disse...

"Um povo sem a benção do acaso, da sorte ou do milagre, calejado por tantas decepções – mas nunca rebaixado a níveis inferiores – constrói seu próprio destino."
vide rogério ceni "meu pai é colorado" entregando de bandeja pro fernandão, ou o milagre do gabiru fazendo o gol da vida dele. tudo na base de muita competência, é claro.

sobre outras questões, favor ler a autobiografia do sr. lupicínio rodrigues. o saci é a maior jogada de marketing da história do inter, baseado numa mentira bem contada e repetida mil vezes.

sobre a questão específica do rebaixamento, consultar o ricardo teixeira.

grato.

vinícius disse...

...apesar disso o restante do texto, especialmente a análise dos jogadores, com o taison e o trecho "marcão (...) povo", é muito bom.