domingo, 17 de agosto de 2008

Os Jogos Olímpicos e o Brasil

Estamos no meio da maior Olimpíada de todos os tempos e, mais uma vez, o desempenho dos atletas brasileiros é, pra dizer o mínimo, ridículo. Um Estado que postula uma posição relevante no cenário mundial, com quase 200 milhões de habitantes, não pode resignar-se com tão indigna situação. A cada nova Olimpíada a história se repete: os atletas brasileiros chegam cheios de esperança e força de vontade, mas acabam esbarrando na melhor preparação dos estrangeiros. O resultado é assustador: derrotas vexatórias, humilhações e uma exaltação forçada do velho e mentiroso ditado "o importante é competir". Pois bem, digam isso para os americanos ou os chineses...
De fato, é notório que as causas do pífio desempenho brasileiro nos Jogos Olímpicos tem íntima relação com a exdrúxula política esportiva aplicada no país. Como é de conhecimento geral, os grandes esportistas se moldam cedo, principalmente nas escolas. Contrariando esta regra básica, na rede pública de educação brasileira, a regra é a falta de quadras poli-esportivas, a falta de professores, a falta de estrutura, incentivo e apoio. Engana-se quem pensa que a situação nos colégios particulares é muito diferente: apesar da estrutura ser um pouco melhor, dá-se ênfase apenas ao futebol. Os outros esportes são residuais; não há grandes incentivos e a aula de educação física resume-se a um embate futebolístico entre os alunos. Isso, é claro, em se tratando de ensino médio. Quando chega-se ao terceiro grau, o que acontece é muito pior: a atividade física passa a ser optativa e 99,9% dos acadêmicos se forma alheio à prática esportiva.
Soma-se esta realidade à doentia relação que o brasileiro tem com o futebol e o resultado é este: somos espetaculares com bola no pé, mas extremamente incompetentes em qualquer outro esporte, salvo raras exceções. No Brasil, respira-se futebol 24 horas por dia; é o ópio do povo, alguns podem dizer. Isso é uma meia-verdade, já que hoje em dia quem sustenta o futebol é a elite, seja pagando altos preços para ter acesso aos estádios, seja contribuindo mensalmente com o clube, ou ainda adquirindo o chamado pay-per-view. No fim das contas, as atenções estão todas voltadas ao futebol e as outras práticas esportivas acabam no limbo, tendo que sobreviver com migalhas. Em tempos de Olimpíadas, as televisões não cansam de exibir histórias de brasileiros que mal têm o que comer mas que se dedicam ao esporte. Como esperar que esses sujeitos tenham um desempenho satisfatório na maior competição esportiva do planeta, enfrentando adversários que passaram anos treinando, com uma base inquestionavelmente superior?
Portanto, enquanto não houver uma mudança drástica na forma como se trata o esporte no Brasil, não haverá melhora significativa no desempenho olímpico. Sinceramente, quando observo nossos atletas chorando na televisão ao ganhar uma medalha de bronze, sinto um misto de pena e compaixão. Eles são vencedores na vida, com certeza, porque tiveram que superar imensas dificuldades. Mas não é possível que nos contentemos com tão coadjuvante participação na cena esportiva mundial. O esporte, assim como outras riquezas, reflete pujança, poder e status. Pois o Brasil nos Jogos Olímpicos é a réplica perfeita do tamanho dos problemas que precisamos superar.
P.S.: não seria mais prático utilizar os recursos do Ministério do Esporte para naturalizar Michael Phelps?

2 comentários:

Thiago disse...

É Stefan, não há política educacional no Brasil, muito menos política esportiva nas escolas.

Da mesma forma não há incentivo privado, e, por ser filho de presidente de clube esportivo, sei o que é a falta de apoio das grandes empresas para o esporte. A moral é se o cara quiser fazer algo, que pague a conta!

Leandro Fonseca disse...

Boa, Stefan! Concordo. Temos que parar de pensar no "ah, tô aqui na olimpíada, tanta gente gostaria de estar no meu lugar... Fiquei em oitavo lugar e tá ótimo!" - e o panaca diz uma coisa dessas e havia OITO competidores.

Abraço!