domingo, 12 de outubro de 2008

Eleições na terrinha

Encerrada a temporada de futebol, resta-me adentrar no campo político do blog.
Sabemos as ligações deste blog com a velha “Big River”. Ainda como morador destas terras, penso que caiba uma análise apurada – e, se possível, isenta – do processo eleitoral transcorrido por aqui.
“Com Fábio Branco, mais uma vez”. Este não foi o jingle que dominou a campanha eleitoral, mas acabou sendo o vencedor.
Fábio Branco apresentou uma coligação de 11 partidos (PMDB – PSDB – PPS – PTB – PSB – PDT – PHS – PRB – PR – PSC – PP), e, se não estou errado, 139 candidatos a vereador, aproximadamente 12 minutos de propaganda eleitoral, e obras espalhadas pela cidade. Assim, como se não bastasse a força de seu sobrenome, a lembrança positiva de sua administração pela maioria dos riograndinos, Fábio Branco teoricamente contaria com 139 equipes a seu favor. Teoricamente, se 139 candidatos a vereador, com uma média de 3 apoiadores “não familiares” por cabeça, se dedicam a tua campanha, tu és imbatível. Na prática, muitos candidatos não têm estrutura e outros não fizeram campanha para a majoritária da coligação. Ainda assim, os candidatos de maior estrutura participaram ativamente da campanha de Fábio Branco.
O programa eleitoral do PMDB foi, certamente, em minha opinião, e com total respeito aos produtores, extremamente fraco, especialmente no primeiro mês de campanha. O tempo privilegiado foi usado com minutos e minutos de músicas e imagens repetitivas. O jingle foi o mesmo das três campanhas anteriores, com leves adaptações. As imagens de fundo foram as obras da Presidente Vargas e da XV de Novembro, já exploradas em campanhas anteriores, e que, atualmente, devem render votos circunscritos aos habitantes das respectivas regiões.
“Ele voltou”. “Ele você conhece, nele você confia”. Estas foram as principais frases utilizadas pelas apresentadoras do programa (as mesmas de três campanhas!). O uso irregular de propaganda em ambulâncias, ocorrido em 2004, e motivo da renúncia da candidatura de Fábio Branco e de sua condenação foi explorada como uma “injustiça”. Certamente esta estratégia não foi exitosa para os eleitores mais esclarecidos.
Em fundo escuro, com a voz embargada, e o olhar choroso, Fábio Branco lembrou do tio, Wilson Branco, momento que teve uma receptividade negativa muito forte na comunidade. De lado a lado, existe um respeito muito grande pela memória do ex-prefeito, morto nas vésperas das eleições de 2000. Mas o uso constante de sua imagem para fins eleitorais tem mais desgastado seus familiares do que gerado apoio.
A P-53 foi explorada como uma conquista do governo Branco para a cidade de Rio Grande, muito embora seja uma contradição tremenda a família Branco afirmar isto e ter estado sempre ao lado dos candidatos do PSDB à Presidência, estes compromissados com políticas que afastavam estes investimentos do Brasil.
Onze partidos, grandes nomes ao legislativo municipal, 12 minutos de propaganda eleitoral, dois deputados estaduais e um federal ao seu lado, e Fábio Branco saiu vencedor das urnas, com uma redução de quase 25% do eleitorado de 2004, obtendo 60.471 votos, com 9 vereadores de sua coligação eleitos.
Dirceu Lopes, da Frente Popular (PT – PC do B – PTC) obteve 46.274 votos, a maior votação da história da esquerda de Rio Grande. Quatro vereadores da coligação foram eleitos. Com pouco mais de 4 minutos de propaganda eleitoral e apenas 20 candidatos a vereança, as intenções de voto aumentaram muito com as inserções do apoio do Presidente Lula, um privilégio que não ocorreu em muitas outras cidades.
Ex-vereador do Rio Grande, ex-secretário do governo Olívio Dutra e do governo Lula, Dirceu Lopes teve imensas dificuldades em se fazer lembrado novamente pela comunidade. A campanha pemedebista percebeu isto e explorou ao longo do pleito o fato de Fábio Branco ser morador do Rio Grande, e Dirceu não, ligando isso a uma suposta incapacidade de governar a cidade. (daí que devemos perguntar se os atuais governantes de nossa cidade moram mesmo aqui, dado o estado insatisfatório, ao menos por mim assim considerado, da qualidade de nossos bairros).
Com baixo orçamento, os programas eleitorais da Frente Popular foram propositivos, deixando de lado a postura agressiva adotada em 2004.
Contudo, seriam outros dois fatos os mais prejudiciais a candidatura de Dirceu Lopes.
Ao surpreendente crescimento das intenções de voto pró-Dirceu sucedeu-se o episódio dos tiros e pichações em uma das sedes centrais do PMDB. Além disso, horas antes do debate da RBSTV, a coligação de Fábio Branco inseriu denúncias, em horário nobre, contra Dirceu Lopes, que acabaram por gerar um forte direito de resposta da Frente Popular, concedido no dia seguinte.
Estes lamentáveis fatos, cujas repercussões foram extremamente negativas ao candidato petista, estancaram um crescimento surpreendente da candidatura da oposição.
Philomena, do PV, novamente cumpriu seu papel, oferecendo propostas alternativas, tentando fazer frente à polarização PT-PMDB. Contudo, diminuiu quase em 50% sua votação em comparação com 2004. Talvez o candidato já tenha nome consolidado para uma disputa tranqüila pela vereança, podendo discutir suas propostas no cotidiano, e não somente de 4 em 4 anos.
Rubens Goldenberg (DEM) e Carlinhos Pescador (PSOL) ficaram abaixo dos mil votos.
Só posso desejar um bom governo ao prefeito eleito (uma vez isto significa uma vida melhor para os riograndinos) na certeza de que terá fiscalização dobrada na Câmara de Vereadores nos próximos quatro anos.

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