sábado, 18 de outubro de 2008

A Crise do Capitalismo Financeiro e Nova (?) Ordem Mundial

Os leitores do blog já devem ter percebido, após alguns meses de vida do (Gol)pe de Estado, que sou um cidadão que gosta de teorias. Para qualquer situação da existência humana busco uma fundamentação teórica que dê embasamento aos fatos, sejam estes passados, presentes ou futuros. Quando estas teorias dizem respeito à Ciência Política e suas decorrências, então, aí sim é que as questões se tornam mais interessantes e controversas.
Nesse sentido, já que estamos passando por um momento de extrema importância no cenário político-econômico mundial, resolvi falar um pouco do assunto aqui no blog. As teorias que balizam o entendimento majoritário dos países sobre essas situações estão em xeque; diversos governantes mudaram suas posturas diante do crash. Assim, me proponho a elaborar uma visão geral do assunto, o que faço nos termos a seguir.
As teorias político-econômicas clássicas apresentadas, notadamente, por Adrian Smith e Karl Marx, foram chamadas de Liberalismo e Marxismo (Comunismo/Socialismo), respectivamente. O meu propósito, neste post, não é adentrar nos meandros de cada idéia, até porque isso levaria muito tempo. O que é necessário saber, por ora, é que o Estado Liberal seria aquele no qual a intervenção estatal seria mínima, deixando a cargo do mercado a função de regular a economia, respeitando a propriedade privada e a liberdade para contratar. Já o Estado Marxista pregava uma maior presença do Estado nas questões econômicas, tendo o mercado um papel coadjuvante no contexto social; a coletividade deveria se apropriar dos meios de produção.
O que se viu ao longo da história foi uma grande dissidência relacionada à aplicabilidade dessas teorias, gerando um conflito entre os apoiadores de cada lado. Após passar por muitas crises, sendo a principal delas a de 1929, a teoria liberal consolidou-se através do chamado Capitalismo Financeiro, sistema que começou a se fazer presente nos anos 90. A teoria socialista ruiu junto com o Muro de Berlim, em 1989, representando a queda do país que mais se esforçou em estabelecer os institutos comunistas, a União Soviética.
A partir de então, o mundo pareceu estar convencido do sistema que deveria vigorar; a Globalização foi um fenômeno que consolidou a vitória liberal e gerou uma suposta unanimidade entre os países. O fim da história foi decretado e uma Nova Ordem Mundial estava instaurada. A sociedade não precisava mais de teorias político-econômicas; só haveria de existir uma, a vitoriosa teoria liberal, e quem não se alinhasse ao sistema sofreria graves conseqüências (vide Cuba).
Chegamos, então, ao ano de 2008 e o cenário é este: bolsas quebrando, crise mundial de crédito e uma tremenda preocupação com o futuro. Numa decisão histórica, os governos da Inglaterra e dos Estados Unidos, contrariando as suas orientações ideológicas, injetaram bilhões na economia e salvaram várias conglomerados financeiras da falência, representando uma intervenção histórica. Este setembro de 2008 será lembrado com a mesma importância que 1929: o dia em que, mais uma vez, o mercado se curvou ao Estado.
Mas afinal, aonde erramos? Será que confiamos demais em instituições que antes se mostravam quase perfeitas? Me parece que sim. Ficou claro que a sociedade não pode depender do humor dos investidores e especuladores. Mas também acredito que não é razoável que o Estado intervenha da forma imaginada pelos socialistas. Um meio termo diferente do well-fare state europeu precisa ser imaginado. Um modelo econômico que proteja a liberdade e a concorrência, mas ao mesmo tempo que fiscalize a atuação dos agentes econômicos.
Para mim, a grande lição que fica dessa situação é que não existe teoria que não seja desbancada pela realidade. Por mais que aprecie o cientificismo, devo admitir que os fatos ensejam uma conduta mais relativizada. O homem é ele e suas circunstâncias; pois eu acredito que o homem é ele, suas circunstâncias e suas contradições. A realidade faz com que a sociedade se contradiga a todo momento e devemos aprender a conviver com isso.




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